Na edição em que o Ars Electronica completa 40 anos, poderíamos estar inclinados a pensar que a arte digital se encontra vinculada pela tecnologia à época da sua criação. No entanto, experimentando esta seleção, onde os desenhos são escavados e expandidos através da realidade aumentada, o olhar do espectador é aplicado para degradar uma imagem fotográfica e os gestos concretos ou performativos do público são usados para evocar memórias ou apontar novos rumos, podemos perceber que criatividade pode, definitivamente, transcender a tecnologia empregue para lhe dar corpo.
Apelando à temporalidade, ao espaço e à memória enquanto ingredientes principais, a exposição Timelessness envolve os participantes numa viagem através de paisagens sociais, estéticas e temporais. A exposição reúne um conjunto de projetos artísticos desenvolvidos por estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento, no âmbito do Departamento de Arte Multimédia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (FBAUL).
Desde a sua fundação como escola de artes em 1836, a FBAUL sempre procurou integrar múltiplas áreas da arte e do design. Sendo a Arte Multimédia um dos seus departamentos mais recentes, desde a sua constituição em 2004 propõe-se aprofundar a pesquisa artística através da aplicação de uma abordagem multidisciplinar, incorporando nos seus campos de conhecimento áreas tradicionais como a pintura, a escultura, o design de comunicação e o design de produto que, apesar dos novos meios e das novas tecnologias, permanecem intemporais.
O departamento de Arte Multimédia, através do seu grupo de investigação, integra ainda o Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes (CIEBA) e o Instituto de Tecnologias Interactivas (ITI/LARSYS). Numa instituição simultaneamente contemporânea e histórica, o departamento promove a colaboração com outros departamentos e também o estabelecimento de parcerias com o exterior, como o Instituto Superior Técnico ou o NOVA - Laboratório de Ciência da Computação e Informática.
A FBAUL situa-se no Chiado, um bairro cosmopolita, boémio e artístico no centro de Lisboa, Portugal.
Timelessness
Timelessness
Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa Departamento de Arte Multimédia
Ars Electronica Campus Exhibition 5-9 Set 2019, PostCity Linz
Apresentação
Obras em Exposição
Wandering Gaze
Ana Teresa Vicente (PT)O projecto Wandering Gaze explora a relação entre o olhar do observador e uma determinada imagem. A instalação permite que o olhar dos observadores seja materializado num percurso tangível que irá erodir a superfície de uma fotografia. A imagem torna-se num espaço performativo onde o olhar dos vários observadores é convidado a vaguear e explorar a imagem, contribuindo para a peça mas, ao mesmo tempo, causando a deterioração da superfície da imagem fotográfica. O projecto foi desenvolvido com a assistência técnica do MILL (Tiago Rorke, Maurício Martins e Pedro Ângelo).
ARchaeologies
Pedro Soares (PT)Em ARchaeologies somos confrontados com uma folha de papel onde uma imagem icónica do passado foi gravada através do recurso a dobras. Os observadores podem utilizar os materiais disponíveis para produzir seus próprios desenhos enquanto, simultaneamente, revelam a imagem escondida. A partir da observação da peça com um app de realidade aumentada, podemos ver as camadas que contêm cada citação individual feita pelos participantes e como a forma como cada nova intervenção é condicionada pelo que foi feito antes.
SandBox – Grains in Memory
Adriana Moreno (BR)Sandbox é uma instalação de arte interactiva que propõe reflexões contínuas sobre o relacionamento humano, frente ao mar e os seus caminhos de identidade. A instalação consiste num corpus de memórias sonoras sobre as experiências de pessoas que narram as suas relações de pertença com o mar. Memórias - ambas "paisagens sonoras", um conceito adaptado de Schafer quando este se refere aos sons em ambiente marinho e narrativas orais gravadas durante o trabalho de campo - revelam-se, então, pela acção de movimentar a areia molhada numa caixa instrumentada.
Frontiers || Territories
Joana Resende (PT)Os limites estão constantemente a ser alterados, e os que encontramos hoje podem ter já sido alterados amanhã. Numa área protegida da área metropolitana de Lisboa, foram recolhidas imagens aéreas a fim de construir um mapa com software open-source. Estes são compartilhados através de um site que é também, em si, um mapa, permitindo a visualização de territórios económicos, ecológicos ou sociais, tentando ver o quão um território ou área protegida é respeitado - "para mais tarde recordar".
The Fortress
Andreia Batista (PT), André Fidalgo Silva (PT), Luís Morais (PT), Miguel Ribeiro (PT)
The Fortress é um jogo de vídeo para computadores baseado num enredo onde as múltiplas escolhas e as interacções exploradas levam a resultados diferentes. A mecânica principal do jogo está directamente relacionada com as interacções sociais: através da alternância entre dois personagens com personalidades distintas, o jogador precisa de desvendar o mistério de cada quebra-cabeça/nível da fortaleza. O projecto foi criado no âmbito da parceria entre o departamento de Arte Multimédia e o Mestrado em Jogos do Instituto Superior Técnico.
Orbita
João Batista (PT), Noel Martins (PT), Pedro Gonçalves (PT), Hugo Rocha (PT)Orbita é um jogo open-world de realidade virtual, desenvolvido com o objectivo de representar uma visão futurista na qual coexistem ciência e a espiritualidade. Faz uso de vários puzzles para estimular o jogador a explorar os ambientes. Confrontando os jogadores com uma possibilidade futurista em que a ciência não é valorizada acima espiritualidade nem vice-versa, este jogo permitir-lhes-á entender as metáforas subjacentes à viagem do personagem principal.
Inter Faces
Régis Costa de Oliveira (BR)A performance Inter Faces usa a realidade aumentada para substituir o corpo do performer – incluindo auto-retratos – com imagens digitais, enquadradas num ecrã. O artista irá agir num espaço que funde o real com o digital. As suas acções ocorrerão pelo cruzamento desses dois mundos, explorando as dimensões do simulacro e evidenciando-o dos conteúdos digitais que são, aparentemente, tão apelativos, deixando ao mesmo tempo claro que tais tentações podem exercer um efeito narcótico e alucinogénio.
Curadoria
Mónica Mendes (PT)
É uma artista de digital media, professora no departamento de Arte Multimédia da Universidade de Lisboa e investigadora do Instituto de Tecnologias Interactivas ITI/LARSYS. Interessada no design para um mundo mais sustentável, criou o projecto ARTiVIS, que explora sistemas interactivos em tempo real, no cruzamento entre arte, ciência e tecnologia. Mónica tem também sido curadora e coordenadora de exposições e eventos comunitários no âmbito dos novos meios de comunicação e artes digitais.
Ana Teresa Vicente (PT)
É uma artista, investigadora e doutoranda em fotografia na Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa (FBAUL) com uma bolsa de estudo pela FCT. Completou o mestrado em 2011 e licenciou-se em pintura em 2007, na FBAUL. Desde 2005 que tem vindo a apresentar o seu trabalho através de exposições, conferências e publicações. Foi co-coordenadora do Post-Screen: International Festival of Art, New Media and Cybercultures. Actualmente, trabalha como curadora para o Festival Aura Sintra.
Artistas
Adriana Moreno (BR)
Investigadora/artista, doutoranda em Belas Artes, Universidade de Lisboa. Membro grupos de investigação Ama [Z] oom Observatório Cultural da Amazónia e do Caribe e do grupo de estudos e pesquisas em arte e tecnologia Artefacto, pela UFRR; colaboradora do CIEBA e do ITI/LARSYS. Encontra-se a desenvolver uma investigação em arte digital. Colabora com o projecto de ARTiVIS e com Plasticus Maritimus, com o objectivo de desenvolver instalações na fronteira híbrida entre activismo, sustentabilidade e arte de intervenção.
Ana Teresa Vicente (PT)
É uma artista, investigadora e doutoranda em fotografia na Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa (FBAUL) com uma bolsa de estudo pela FCT. Completou o mestrado em 2011 e licenciou-se em pintura em 2007, na FBAUL. Desde 2005 tem vindo a apresentar o seu trabalho através de exposições, conferências e publicações. Foi um co-coordenadora do Post-Screen: International Festival of Art, New Media and Cybercultures. Actualmente, trabalha como curadora para o Festival de Aura.
Andreia Batista (PT), André Silva (PT), Luís Morais (PT), Miguel Ribeiro (PT)
A equipa responsável por The Fortress resultou da parceria com o Instituto Superior Técnico-IST e tem como membros: Andreia Batista, Designer de comunicação, e cujo mestrado se foca em Game Design, André Silva, um Game Designer que adora criar histórias que permanecem na memória dos jogadores, Miguel Ribeiro, um Level e Game Designer que desenvolve jogos para telemóvel, computador e jogos de tabuleiro e Luís Morais, um Game Designer cuja tese se debruça sobre a integração de uma arquitectura social de AI no Conan Exiles.
Joana Resende Silva
Mestranda em Arte Multimédia na FBAUL (Universidade de Lisboa, Portugal). Tem-se focado na realização de projectos conceituais de alcance social em relação ao quotidiano da tecnologia, tais como vídeo-vigilância e mapeamento de dados. Neste momento, encontra-se a desenvolver um projecto sobre fronteiras, usando equipamentos DIY e software open-source. Trabalhou na produção de espectáculos e performance e tem desenvolvido investigações académicas nas áreas da dança e do movimento.
João Batista (PT), Noel Martins (PT), Pedro Gonçalves (PT), Hugo Rocha (PT)
O grupo de programadores de Órbita é formado por João Batista, que cria as explorações que seguem um fluxo de trabalho relacionado com o conceito artístico, ilustração, modelagem, animação; Noel Martins, um aspirante a artista conceptual com um forte interesse em contar histórias e em worldbuilding; Pedro Gonçalves, que desenvolve as suas habilidades de design HUD em Unity; e Hugo Rocha, que se especializou no campo da tecnologia computacional, com experiência em programação. Este jogo foi desenvolvido a partir de vários cursos de Arte Multimédia.
Pedro Soares (PT)
Nasceu em Lisboa em 1994. Em 2015, formou-se em Arte Multimédia (com um major em ambientes interactivos) na Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas Artes. Em 2019 concluiu o mestrado em Arte Multimédia, na especialização de Performance e instalação. Entretanto, tem participado de vários cursos e oficinas de teatro de improvisação e cinema de animação.
Régis Costa de Oliveira (BR)
Doutorando em artes performativas e imagem em movimento. Professor de artes visuais no Instituto Federal do Maranhão – Brasil. Régis investiga a relação entre performance, tecnologia de realidade aumentada e auto-retrato, com ênfase na construção de discursos críticos sobre os efeitos da presença e ausência na relação entre o tangível e digital.
Ficha Técnica
- Curadoria
- Mónica Mendes, Ana Teresa Vicente
- Direcção Área de Multimédia
- Patrícia Gouveia
- Docentes
- António de Sousa Dias, Mónica Mendes, Pedro Ângelo
- Artistas
- Adriana Moreno, Ana Teresa Vicente, Andreia Batista, André Fidalgo Silva, Luís Morais, Miguel Ribeiro, Joana Resende, João Batista, Noel Martins, Pedro Gonçalves, Hugo Rocha, Pedro Soares, Régis Costa
- Colaboradores
- Maurício Martins, Tiago Rorke, Rita Carvalho (Apoio técnico e Documentação | Makers in Little Lisbon - MILL) João Costa and João Rocha (Design de Equipamento da Exposição | ProjectLabb – FBAUL)
- Instituição e Centro de Investigação convidados
- Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes – FBAUL Universidade de Lisboa, Faculdade de Belas-Artes, Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes – CIEBA
- Parceiros
- Interactive Technologies Institute – ITI / LARSYS Instituto Superior Técnico – IST
- Apoio
- ARTiVIS – Art and Technology for Sustainability MILL - Makers in Little Lisbon